Quando te procurei certo dia em que nada o previa, ali estavas tu, sentada, indefesa, a olhar o vazio, a pesar passados e emoções
que fazes aqui?
continuaste a olhar, como se não tivesses ouvido a minha voz, como se as minhas palavras não tivessem ecoado dentro de ti
porque não haveria de estar aqui?
senti um ligeiro arrepio, com a confirmação de que prestavas atenção, que tinhas ouvido, mesmo não estando a ouvir
desculpa não te ter dito nada... não sabia como te contactar
não queria ser encontrada, por isso vim para este lugar
em volta tudo estava calmo, não havia sinal da mais leve brisa a varrer as superfícies lisas que compunham a paisagem
sabia /não sei ao certo se o saberia, mas disse-o / que estavas aqui, este foi o local onde nos encontramos no dia que mudou as nossas vidas
não te procurei, não saberia o que dizer, preferi vir aqui / tinha a leve esperança que a nossa cumplicidade te trouxesse até cá, mesmo não te querendo ver
ficamos parados, tudo nos passou ali, naquele instante, tudo fluiu como o rápido de um rio, suficientemente lento para que pudesse relembrar porque quis procurar.te, porque te quis encontrar
posso juntar-me a ti? / noutras alturas esta pergunta não faria qualquer sentido, seria um dado adquirido, mas a distância tornou.nos quase estranhos, obrigou.me a medir de novo a distância e a tentar reduzi-la
no teu silêncio vi a anuência, no teu olhar, que, de repente brilhou na escuridão, ouvi um 'sim'
sentei.me, encostei.me, cheguei.me mais a ti, senti a tua carne, o teu calor e quis ficar ali muito tempo, mais do que poderíamos querer
Ali ficamos a olhar o horizonte, agora comungando os vazios, partilhando o silêncio, tentando recuperar o tempo perdido, escontados e ligados por muito mais do que o que sentíamos...
1 comentário:
Bonito e sentido. Agora percebo porque te vês em Fernando Pessoa. Mostras algo mas mantem-se secreto.
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