20081117

O amor é uma imensa partilha


...finalmente hoje conseguimos falar; depois de tantas vezes to ter pedido, me ter desdobrado em palavras mudas que não quiseste ouvir, que fizeste por não ouvir, que evitaste encontrar

(não te quero ver, não quero ver-te, não nos cruzaremos)

não percebi porque nos encontramos n local onde fomos nós, mais dados e amigos, onde partilhamos mais um pouco; as posições estavam invertidas (tu também reparaste) hoje falaria eu e falei, por entre nós e trovoadas que me tolhiam a fala - encaro-te... olho para o lado... tento fixar-te nos olhos, ler-te por dentro... quero voltar atrás, prender-te, não te deixar ir...

...quero saber em que pensas, se em mim naquele momento, neste fino momento de solidão que partilhamos ou se o passado te tolda a visão, esse passado que para ti não foi, que não existiu, que preferes esquecer, fingir que não houve, que não se passou - tu passas por cima dele e eu lá em baixo, a ver-te pisar-me, assim, como se não existisse, como se não te desse nada, como se nunca, nem por uma vez tivesses sentido o que partia de mim...

(dói ouvir isto, peço-te que pares... ao mesmo tempos mereço ouvi-lo, tem que ser, apesar de já ter sido dito de outra forma, da tua forma...)

...de facto, dei pouco, muito pouco do muito que deveria ter dado, que mereceste receber, tu, que eras pura, no olhar, no tacto - e eu a olhar a parede que construí, a por mais uma fila de bloqueios, a não te deixar passar... [escudo]

...poderíamos ter tido o mundo mas eu não deixei, não quis que entrasses logo, queria deixar-te à porta e olhar-te, ver-te melhor -tu eras 'crystal clear', lembras-te? - eu sei que entraste alguma vezes, eu deixei, tu quiseste, também me deixaste partilhar o teu abrigo, não o neguei, quis abraçar-te e fi-lo, sem reservas, sem limites - nós somos parecidos, concordo, tão iguais que agimos assim, da forma que sabemos...

...sabíamos onde atingir, o que nos deitaria abaixo, o que nos faria encontrar o chão à velocidade
da indolência, da preguiça em falar, da maldade de magoar [eu sei onde dói]

Foi um erro, sei-o agora, caí em mim tarde demais, mas não podia voltar atrás nesta rua de sentido único onde te deixei, onde me deixaste e continuaste; eu fiquei de fora e tu de fora ficaste - nenhum de nós ficou abrigado, ambos apeados

...por isso hoje não existiu, não falamos apesar das palavras que trocamos, de eu ter dito o que nunca que nunca me saiu bem, palavras que ecoaram na noite, que foram queimadas pelo teu calor, que fiz passar sem veres - e olhava-te enquanto dormias, a pensar que sonharias connosco, que eu estava lá, que tu me estendias a mão, para me salvar de mim próprio, da minha rude indiferença

hoje desaparecemos, como no passado, numa noite qualquer em que nos deixamos ficar, em que deixamos a alma à espera de conforto, de uma palavra, de um sinal...

tudo o que te queria dizer não saiu hoje, só fragmentos, partes de um todo que nunca te mostrei, que nunca te quis dar, por egoísmo talvez, para ver até onde ias para me ter...

é tão mais fácil quando te segredo ao ouvido à noite, por entre os lençois vazios de ti, te murmuro o que sinto, sem barreiras, sem cortinas, lá, na noite das emoções, raiadas por uma luz infinita, onde me entrego por completo, onde te daria o prémio, no único lugar onde nunca conseguimos ir - mas só depois me apercebo que já não estás, o teu calor já não se mistura com o meu, já não dançamos nas nuvens, nada dizemos...

[Gosto de ti]

20081024

Olhando o espelho (tears roll down...)

...no meio das fotografias, muito mais que apenas imagens, sensações presentes, mesmo agora que sei que 'a vida terminou'...

O que me importa/Marisa Monte/2000

O que me importa seu carinho agora
Se é muito tarde para amar você
O que me importa se você me adora
Se já não há razão para lhe querer

O que me importa ver você sofrer assim
Se quando eu lhe quis você nem mesmo soube dar amor

O que me importa ver você chorando
Se tantas vezes eu chorei também
O que me importa sua voz chamando
Se pra você jamais eu fui alguém

O que me importa essa tristeza em seu olhar
Se o meu olhar tem mais tristezas pra chorar que o seu

O que me importa ver você tão triste
Se triste fui e você nem ligou
O que me importa o seu carinho agora
Se para mim a vida terminou



a palavra escrita contem as imagens...

20081019

you make the moon unnecessary to me



Quando te procurei certo dia em que nada o previa, ali estavas tu, sentada, indefesa, a olhar o vazio, a pesar passados e emoções 

que fazes aqui? 

continuaste a olhar, como se não tivesses ouvido a minha voz, como se as minhas palavras não tivessem ecoado dentro de ti

porque não haveria de estar aqui?

senti um ligeiro arrepio, com a confirmação de que prestavas atenção, que tinhas ouvido, mesmo não estando a ouvir

desculpa não te ter dito nada... não sabia como te contactar

não queria ser encontrada, por isso vim para este lugar

em volta tudo estava calmo, não havia sinal da mais leve brisa a varrer as superfícies lisas que compunham a paisagem

sabia /não sei ao certo se o saberia, mas disse-o / que estavas aqui, este foi o local onde nos encontramos no dia que mudou as nossas vidas

não te procurei, não saberia o que dizer, preferi vir aqui / tinha a leve esperança que a nossa cumplicidade te trouxesse até cá, mesmo não te querendo ver

ficamos parados, tudo nos passou ali, naquele instante, tudo fluiu como o rápido de um rio, suficientemente lento para que pudesse relembrar porque quis procurar.te, porque te quis encontrar

posso juntar-me a ti? / noutras alturas esta pergunta não faria qualquer sentido, seria um dado adquirido, mas a distância tornou.nos quase estranhos, obrigou.me a medir de novo a distância e a tentar reduzi-la

no teu silêncio vi a anuência, no teu olhar, que, de repente brilhou na escuridão, ouvi um 'sim'

sentei.me, encostei.me, cheguei.me mais a ti, senti a tua carne, o teu calor e quis ficar ali muito tempo, mais do que poderíamos querer

Ali ficamos a olhar o horizonte, agora comungando os vazios, partilhando o silêncio, tentando recuperar o tempo perdido, escontados e ligados por muito mais do que o que sentíamos...

20080708

Bucket o' emotions

O homem do balde lá seguia, no seu vai e vem contínuo, carregando o futuro de vidas alheias naquele recipiente de plástico, outrora pleno de utilidade, com um uso pré-determinado, rótulo de função, depois reaproveitado para transportar tudo o que lá coubesse; umas vezes cheio de silêncio, de vazio(s), outras plenos de emoção, cheio de vigor para levar tudo o que conseguir...
No seu âmago, o homem de farda branco percebe hoje que nem tudo o que lá coube se deveria ter levado, nem tudo deveria ter sido bem acondicionado, pois nem tudo o que coube teve utilidade, muito de que lá entrou acabou por não sair e o que saiu, por vezes fê-lo na pior altura... Boas sensações daquele cilindro oco de plástico emergiram, bons momentos que perduraram durante a sua existência, alimentados por esperanças , vontades e quereres muitas vezes difusos . Se escutarmos com atenção, no fundo do recipiente ecoa a voz daquela figura, que se movia de noite e de dia, sob canos e tubos e edifícios austeros, caminhando para não sair e continuar a sentir o balde vazio, pendulando em sua mão: volta, preenche este vazio...

20080707

Finally today...

Inauguro hoje oficialmente esta página, aterro de sentimentos e emoções, inicialmente previsto para ser escrito a 4 mãos, mas adiado consecutivamente, pois as ditas andavam noutras danças, bailando ao som de leves brisas e melodias, cantadas em sussurro...
Neste momento apenas duas mãos se agitam para escrever estas linhas, sem certeza que outras, mais delicadas - sim, de facto são-no - se meneiem para opinar sobre o que está escrito...
Há esperança, sim, ela existe, mas é vã, uma fímbria de luz lá ao fundo... Talvez seja por isso que estas letras escorrem para aqui, por não haver forma de as convidar a lerem, rirem, reprovarem, corrigirem, tocarem... Enfim, como me dizia hoje alguém, "cada um tem o que merece" e eu, apesar de não concordar inteiramente, deleguei nestas mãos longas, de dedos esguios, a minha defesa...

Tu piscas uns pixeis abaixo... demoro-me a ler-te, um misto de medo e curiosidade - prolongo a vontade para sentir esta comichão dançarina a fazer-me cócegas na barriga... (sim, as borboletas)

Refugio-me aqui, apesar de nunca ter visto este conjunto de pixeis e bits como um porto de abrigo, começo a perceber o teu prazer de vires até aqui abrires-te ao mundo, confessares o que guardas... Agora entendo um pouco...